O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) anunciou hoje que vai entregar uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a Polícia Nacional (PN) devido às “agressões brutais” contra os estudantes nos protestos de sábado, em Luanda. São não seria chover no molhado se Angola fosse um Estado de Direito, se a PN não fosse (tal como a PGR) uma sucursal do MPLA.
O posicionamento do MEA foi apresentado numa conferência de imprensa de balanço sobre a manifestação de sábado, em que os estudantes protestaram contra a subida de propinas e emolumentos nas instituições de ensino do país.
Segundo o MEA, a queixa-crime contra os efectivos da polícia angolana (do MPLA) deve entrar na PGR na sexta-feira, lamentando a “agressão violenta” de que dizem ter sido alvo e da qual resultou “20 estudantes feridos, 15 desmaios e detenções arbitrárias”.
O secretário nacional do MEA para o Ensino Superior, Laurindo Mande, que apresentou um comunicado à imprensa, acusou também a Polícia de “ter roubado sete telefones dos manifestantes, valores monetários e outros haveres”.
Para o MEA, a Polícia Nacional violou um acordo prévio sobre o término da manifestação, no Largo dos Ministérios, porque o responsável do MEA “destacou no local mais de 100 agentes de intervenção rápida que agrediram os manifestantes”.
O activista e coordenador do movimento pelas autarquias em Angola, Kambolo Tiaka-Tiaka, um dos agredidos, juntamente com a sua filha de 16 anos, que ficou ferida num braço, disse que a polícia lhe tirou o telemóvel e ficou com dinheiro. “A minha filha foi arrastada até ao carro e sofreu ferimentos num braço”, lamentou.
A Polícia dispersou, no sábado, com tiros e lançamento de gás lacrimogéneo a manifestação de estudantes que protestavam, em Luanda, contra a subida de propinas, após um início de marcha pacífica.
O “elevado” preço das propinas e emolumentos nas instituições públicas e privadas e “falta de qualidade no ensino” foram alguns dos propósitos da manifestação promovida, na capital angolana, pelo MEA.
Mais de 250 estudantes e membros da sociedade civil responderam afirmativamente ao apelo do MEA e concentraram-se no Largo das Heroínas, local onde antes do início da marcha os estudantes expulsaram o presidente de outra sucursal do MPLA, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que teve de sair escoltado perante a “fúria” dos jovens.
“Kalunga fora” era o grito de protesto contra a presença do líder do CNJ que não escapou, inclusive, de uma garrafa de água lançada contra si pelas costas.
Hoje, o MEA “repudiou e demarcou-se” dos incidentes que concorreram para a expulsão do líder do CNJ, tendo “reprovado o comportamento negativo por parte de alguns activistas”.
“Não foi o nosso desejo, por isso protegemos o mesmo [Isaías Kalunga] para que não fosse alvo de agressão”, referiu Laurindo Mande.
A comissão directiva do CNJ repudiou, em comunicado, os actos e “condenou” a tentativa de agressão ao seu líder, pela qual responsabilizou militantes de partidos políticos.
A Polícia de Luanda, por sua vez, anunciou ainda no sábado que deteve três manifestantes, na sequência dos protestos de estudantes, garantindo, no entanto, que haviam sido soltos posteriormente e que “não houve registo de feridos”.
O porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Luanda, inspector-chefe Nestor Goubel, justificou que os efectivos da polícia agiram para “repor os pressupostos acordados” com os organizadores sobre o percurso da marcha.
O MEA deu conta ainda que uma manifestação também ocorreu na província do Huambo, com registo de 12 detidos e três feridos, e na província do Uíje, com cinco detidos, inclusive um cidadão chinês que “filmava a violência contra os manifestantes”.
Na província do Moxico, leste de Angola, não houve detenções e o MEA “enalteceu” a postura da polícia naquela circunscrição.
A Polícia (do MPLA) acredita que estes jovens estão a ser manipulados por estrangeiros (infiltrados na direcção de partidos da oposição), sendo que muitos dos manifestantes poderiam ser também estrangeiros, razão pela qual alguns dos polícias presentes (genuinamente angolanos como o MPLA pode atestar) diziam para os jovens: “Vão protestar para a vossa terra”.
Folha 8 com Lusa
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